O Barco das Ilusões!

Para fazer a primeira viagem, aquela viagem dos sonhos, começa com os planos, até tomar a decisão definitiva, e segue, escolhe o roteiro, compra as passagens, escolhe o hotel e, por fim, marca a data da partida. Quando tudo está pronto, espera ansioso, fazendo mil planos, imaginado praias paradisíacas, cidades maravilhosas, muita gente bonita, só festas e alegrias.
Então, chega o tão sonhado dia, o momento do embarque, quando os amigos e parentes vão ao porto se despedir e desejar boa viagem. Finalmente sobem a bordo, o coração batendo acelerado, no peito aquela sensação de sonho realizado é indescritível. O navio zarpa lentamente, embalado suavemente pelas ondas, e diante dos olhos vai se abrindo aquele cenário maravilhoso, o dia está lindo, o sol brilhando intensamente, a brisa suave soprando no rosto, e tudo está saindo como planejado, igual os sonhos, onde nada pode dar errado.
Ficam tão envolvidos com a emoção da primeira viagem, que acreditam que aquele momento será perfeito, inesquecível e nem percebem que antes mesmo de chegar ao alto-mar, a paisagem já mudou bruscamente, o Sol já foi encoberto pelas nuvens, a brisa já virou ventania e o suave embalo virou sacudidas. Quando por fim se dão conta, a ventania já virou furação, a tempestade já desabou e o navio já está afundando, deixando diante dos olhos um cenário de destruição e a sensação de pavor é o único sentimento que assola a mente e o coração. Então, restam apenas duas opções; saltar na água e tentar se salvar ou ficar sentado esperando o resgate chegar.
Os mais corajosos, logo saltam na água e começam a nadar, dispostos a encontrar Terra firme ou morrer tentando se salvar. Porém, os mais fracos, permanecem grudados nos destroços da embarcação, esperando que aconteça um milagre que possa salvá-los.
 
O casamento é assim, como o barco das ilusões.
 
Tudo começa com os planos e a decisão de se casar. Depois escolhe a igreja, dá entrada nos papéis, escolhe o salão onde vai ser a festa, encomenda o vestido de noiva, o terno do noivo e convidam as testemunhas. Então, marcam a data para o acontecimento mais sonhado pelo casal de noivos e suas famílias. Quando tudo está meramente planejado e preparado, esperam ansiosos a chegada do grande dia, fazendo mil planos para o futuro, sonhando com uma casa bonita, filhos e um lar feliz, onde só reinará o amor, a paz e a felicidade.
Aí chega o dia do casamento e tudo está perfeito, parece um cenário de sonhos, a igreja enfeitada de flores, os amigos e familiares presentes para testemunhar a feliz união do casal, todos elegantemente vestidos e o sorriso estampado no rosto. Finalmente, sobem ao altar, de frente um para outro, mãos dadas, olhos nos olhos refletindo amor e ternura, o coração batendo acelerado e as lágrimas que rolam pelo rosto são de pura emoção. Naquele momento tudo está perfeito, por isso, acreditam que nada vai sair errado e que a vida a partir de então será um mar de rosas. Então, iludidos com a emoção do matrimônio, sonhando com a felicidade eterna, acreditando nas promessas de amor, amizade e companheirismo, repetem as palavras do sacerdote: prometo ser fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença, por todos os dias de minha vida, até que a morte nos separe, mas acabam fazendo um juramento sem sequer ter noção do que estão prometendo diante de um altar sagrado.
Por fim, marido e esposa saem da igreja sob aplausos e chuva de arroz, se dirigem ao salão para comemorar a feliz união de duas vidas, onde os noivos dançam a valsa com um sorriso nos lábios, a expressão de felicidade estampada nos rostos e festejam até à hora de partir para a noite de núpcias, o momento mais esperado pelo casal. Enfim sós, num quarto fechado e ambos acreditam que aquele amor será para sempre.
Mas, como tudo o que é bom dura pouco, então chega a hora de voltar para casa e encarar a vida real. Logo se estabelece a rotina, acabam-se as fantasias e o casal nem percebe que tudo começou a mudar lentamente. As juras de amor dão lugar as reclamações e pequenos desentendimentos, o brilho nos olhos passa a ser de indiferença, os beijos ardentes são substituídos por beijos no rosto, e nem percebem que já passaram a transar, invés de fazer amor. Quando se dão conta, as discussões já viraram brigas e agressões, as lágrimas são de tristeza, a expressão no rosto é de amargura e a sensação no peito é de fracasso.
Alguns, assim que percebem que o casamento fracassou, pedem o divórcio e partem em busca do casamento perfeito, culpando o cônjuge pelo fracasso do atual matrimônio, sem jamais admitir seus próprios erros, mas acreditando que o próximo casamento vai ser diferente, o que não será, porque se o casamento fracassou, a culpa foi de ambos. No entanto, os mais acomodados permanecem agarrados aos fragmentos de um amor que um dia acreditaram existir, esperando que aconteça um milagre que devolva a vida de contos de fadas com a qual tanto sonharam.
Contudo, em ambos os casos, alguns se salvam e outros morrem. A diferença é que o náufrago se afoga na água do mar e morre rapidamente, já o casado mergulha no mar da solidão e espera a morte chegar lentamente.