Para fazer a primeira viagem, aquela viagem dos sonhos,
começa com os planos, até tomar a decisão definitiva, e segue, escolhe o
roteiro, compra as passagens, escolhe o hotel e, por fim, marca a data da
partida. Quando tudo está pronto, espera ansioso, fazendo mil planos, imaginado
praias paradisíacas, cidades maravilhosas, muita gente bonita, só festas e
alegrias.
Então, chega o tão sonhado dia, o momento do embarque,
quando os amigos e parentes vão ao porto se despedir e desejar boa viagem.
Finalmente sobem a bordo, o coração batendo acelerado, no peito aquela sensação
de sonho realizado é indescritível. O navio zarpa lentamente, embalado
suavemente pelas ondas, e diante dos olhos vai se abrindo aquele cenário
maravilhoso, o dia está lindo, o sol brilhando intensamente, a brisa suave
soprando no rosto, e tudo está saindo como planejado, igual os sonhos, onde nada
pode dar errado.
Ficam tão envolvidos com a emoção da primeira viagem, que
acreditam que aquele momento será perfeito, inesquecível e nem percebem que
antes mesmo de chegar ao alto-mar, a paisagem já mudou bruscamente, o Sol já
foi encoberto pelas nuvens, a brisa já virou ventania e o suave embalo virou
sacudidas. Quando por fim se dão conta, a ventania já virou furação, a
tempestade já desabou e o navio já está afundando, deixando diante dos olhos um
cenário de destruição e a sensação de pavor é o único sentimento que assola a
mente e o coração. Então, restam apenas duas opções; saltar na água e tentar se
salvar ou ficar sentado esperando o resgate chegar.
Os mais corajosos, logo saltam na água e começam a nadar,
dispostos a encontrar Terra firme ou morrer tentando se salvar. Porém, os mais
fracos, permanecem grudados nos destroços da embarcação, esperando que aconteça
um milagre que possa salvá-los.
O casamento é assim, como o barco das ilusões.
Tudo começa com os planos e a decisão de se casar. Depois
escolhe a igreja, dá entrada nos papéis, escolhe o salão onde vai ser a festa,
encomenda o vestido de noiva, o terno do noivo e convidam as testemunhas. Então,
marcam a data para o acontecimento mais sonhado pelo casal de noivos e suas
famílias. Quando tudo está meramente planejado e preparado, esperam ansiosos a chegada
do grande dia, fazendo mil planos para o futuro, sonhando com uma casa bonita,
filhos e um lar feliz, onde só reinará o amor, a paz e a felicidade.
Aí chega o dia do casamento e tudo está perfeito, parece um
cenário de sonhos, a igreja enfeitada de flores, os amigos e familiares
presentes para testemunhar a feliz união do casal, todos elegantemente vestidos
e o sorriso estampado no rosto. Finalmente, sobem ao altar, de frente um para
outro, mãos dadas, olhos nos olhos refletindo amor e ternura, o coração batendo
acelerado e as lágrimas que rolam pelo rosto são de pura emoção. Naquele
momento tudo está perfeito, por isso, acreditam que nada vai sair errado e que
a vida a partir de então será um mar de rosas. Então, iludidos com a emoção do
matrimônio, sonhando com a felicidade eterna, acreditando nas promessas de
amor, amizade e companheirismo, repetem as palavras do sacerdote: prometo ser
fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na riqueza e na
pobreza, na saúde e na doença, por todos os dias de minha vida, até que a morte
nos separe, mas acabam fazendo um juramento sem sequer ter noção do que estão
prometendo diante de um altar sagrado.
Por fim, marido e esposa saem da igreja sob aplausos e chuva
de arroz, se dirigem ao salão para comemorar a feliz união de duas vidas, onde
os noivos dançam a valsa com um sorriso nos lábios, a expressão de felicidade estampada
nos rostos e festejam até à hora de partir para a noite de núpcias, o momento
mais esperado pelo casal. Enfim sós, num quarto fechado e ambos acreditam que
aquele amor será para sempre.
Mas, como tudo o que é bom dura pouco, então chega a hora de
voltar para casa e encarar a vida real. Logo se estabelece a rotina, acabam-se
as fantasias e o casal nem percebe que tudo começou a mudar lentamente. As
juras de amor dão lugar as reclamações e pequenos desentendimentos, o brilho
nos olhos passa a ser de indiferença, os beijos ardentes são substituídos por
beijos no rosto, e nem percebem que já passaram a transar, invés de fazer amor.
Quando se dão conta, as discussões já viraram brigas e agressões, as lágrimas
são de tristeza, a expressão no rosto é de amargura e a sensação no peito é de
fracasso.
Alguns, assim que percebem que o casamento fracassou, pedem
o divórcio e partem em busca do casamento perfeito, culpando o cônjuge pelo
fracasso do atual matrimônio, sem jamais admitir seus próprios erros, mas
acreditando que o próximo casamento vai ser diferente, o que não será, porque
se o casamento fracassou, a culpa foi de ambos. No entanto, os mais acomodados
permanecem agarrados aos fragmentos de um amor que um dia acreditaram existir,
esperando que aconteça um milagre que devolva a vida de contos de fadas com a
qual tanto sonharam.
Contudo, em ambos os casos, alguns se salvam e outros morrem.
A diferença é que o náufrago se afoga na água do mar e morre rapidamente, já o
casado mergulha no mar da solidão e espera a morte chegar lentamente.